Estamos actualmente a cuidar de 78 mulheres que foram submetidas a operações de reparação de fístula no Hospital Strangway, no Bié, entre 30 de Agosto e 5 de Setembro.
Cada mulher tem uma história para contar. Umas são histórias de amor, outras são histórias de desespero, outras são histórias de rejeição. Todas as histórias falam de vergonha e sofrimento.
Conheça a Larissa* (nome alterado para privacidade). A Larissa tem 26 anos. Vive com fístula obstétrica há 11 anos, desde os 15 anitos dela. Ela viveu 11 anos de rejeição e maus-tratos. Após um trabalho de parto prolongado e a perda do bebé, ficou também com incontinência. A causa era fístula obstétrica, mas ela não sabia disso.
Por causa da sua incontinência, foi rejeitada pela família da sua mãe. Foi rejeitada pela família do seu pai. Foi rejeitada pelo marido e pela família dele. Disseram que estava “estragada” e “sem valor”, que “já não era uma pessoa”.
Ia muitas vezes à farmácia comprar medicamentos para ter uma overdose e se matar. Ela até comprou um cordão para se enforcar, pois não imaginava continuar a viver com a rejeição e os maus-tratos que sofria. “Mas”, diz ela, “graças a Deus, porque Ele é Bom, o mesmo Deus que me trouxe a esta terra não me deixou tirar a vida. Cada vez que tentei, alguém apareceu e me impediu."
Ao longo de todos estes anos, apenas uma pessoa esteve ao seu lado. É a mesma pessoa que ajudou a pagar o seu transporte da aldeia até ao Cuito para esta campanha de operações. É um jovem da sua aldeia que sempre gostou dela. Mesmo com a sua incontinência, nunca a tratou de forma diferente, nunca disse que ela cheirava mal; se a encontrasse triste e deprimida, tentaria animá-la. Ela diz: “ele é a única pessoa na minha vida que nunca me desiludiu”.
Larissa é uma entre milhares de mulheres que vivem anos sem esperança. Estamos muito gratos por ela nunca ter conseguido tirar a sua própria vida, por ter a hipótese de ser curada e a hipótese de aprender que curada ou não, ela é DIGNA, ela TEM VALOR.
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